Com o propósito de continuar obtendo privilégios a que estavam habituados quando o acesso de médicos para trabalharem em hospitais do estado se dava apenas por meio da Cooperativa de Médicos da Bahia (Coopamed), alguns cirurgiões tentaram pressionar a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) a pagar valores diferenciados dos outros profissionais médicos. O problema foi localizado no Hospital Geral Clériston Andrade, que atende a população de 116 municípios da região de Feira de Santana, onde estes cirurgiões chegaram a exigir depósito antecipado em suas contas bancárias para comparecerem ao plantão.
Segundo o secretário estadual da Saúde, Jorge Solla,, os médicos costumavam estipular, por conta própria, o valor para cumprir os plantões, quando eram solicitados pela Coopamed. "Um deles chegou a exigir que fossem depositados R$ 19 mil antecipados em sua conta", afirmou. A situação fica mais complicada, observa o secretário, porque a rede Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Feira de Santana não tem outro serviço de cirurgia de emergência, e todos os casos vão desembocar no HGCA. "Para efeito de comparação, o município de Vitória da Conquista tem três grandes serviços de emergência em cirurgia atendendo regularmente pelo SUS", adiantou.
Desde quarta-feira (9), os plantões ficaram desfalcados de cirurgiões deste grupo, o que obrigou o secretário da Saúde a adotar medidas emergenciais, como a contratação de profissionais classificados no processo seletivo simplificado Reda (Regime Especial de Direito Administrativo) e da contratação emergencial de dois hospitais privados de Feira de Santana – Emec e São Mateus – para dar atendimento a pacientes que necessitem de procedimento cirúrgico encaminhados pelo Hospital Clériston Andrade.
Sábado (12) à noite, um paciente politraumatizado foi atendido, no Hospital São Mateus, pelo cirurgião torácico daquela unidade e pelo cirurgião maxilofacial Jorge Marques, único a cumprir escala no Clériston Andrade naquele momento. "Estamos remontando as escalas com outros profissionais e recorrendo ao apoio das instituições privadas. Também estamos mobilizando ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador e da Central Estadual de Regulação, para transferir pacientes".
Chantagem
O diretor do Clériston Andrade, Wagner Oliveira Bonfim, disse ter sido surpreendido na noite de quarta-feira, quando os cirurgiões não compareceram, obrigando os médicos presentes a dobrarem os plantões. "Eles estabeleceram uma relação conflituosa, exigindo depósitos antecipados em contas correntes. A Sesab vem efetuando repasses em valores iguais aos que os novos contratados vão receber, mas eles não quiseram acordar com o estado e vêm adotando uma postura agressiva. Estão fazendo uma certa chantagem com o estado, e o estado não pode aceitar isso".
Segundo Wagner Bonfim, domingo (13), a equipe do HGCA estava completa nas demais especialidades médicas, mas com apenas um cirurgião, quando o normal seria ter três profissionais. O deputado estadual José Neto visitou o hospital e se disse impressionado com a situação. "Estamos chocados com esse tipo de conduta. Precisa haver compreensão por parte destes médicos, que estão se colocando em processo de enfrentamento".
O deputado articulou contatos com a secretária municipal de Saúde, Denise Mascarenhas, com objetivo de minimizar os problemas. "A situação decorre de uma transição difícil, do esquema de trabalho contratado pela Coopamed para uma estabilização, de contrato com garantias trabalhistas. Todo o esforço está sendo feito, a Sesab está fazendo o que pode, mas o que se encontrou foi uma situação de calamidade, que não se vai resolver em poucos meses. É preciso um conjunto de ações em parceria com os municípios para a resolução desses problemas", disse Zé Neto.
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