11 maio 2007

Ariano Suassuna é Cidadão Baiano

A entrega do título de Cidadão Baiano ao escritor paraibano Ariano Suassuna, ontem, no plenário da Assembléia Legislativa da Bahia, foi tão emocionante quanto o universo literário que cerca os personagens agrestes criados por ele.

“A coisa mais feia do mundo é um sertanejo mole. Choro, só em mulher bonita. Em um homem como eu, é a coisa mais grotesca”, disse o homenageado do dia. As palavras foram pronunciadas por Suassuna depois de ele, não só uma, mas inúmeras vezes, deixar a emoção transbordar.

Foram os versos de Canudos (Fábio Paes), música que abriu a sessão de ontem, numa belíssima e emocionante interpretação do cantor e compositor baiano Fábio Paes, que deixaram sem voz o escritor. Emocionado, Suassuna vibrou com o coro (Do conselho dos profetas, ouvimos/ Libertação/ Salve, Salve, Canudos...), fechou os punhos, numa clara referência à necessidade de seguir a luta, abriu os braços e chorou. Contagiou a platéia, que, extasiada, viu como o mais novo cidadão baiano é o retrato fiel da humildade, força e sensibilidade do homem sertanejo.

Depois de ouvir Sérgio Campello e Cláudio Moura, responsáveis pela trilha sonora de O Auto da Compadecida, tocarem músicas do longa de Guel Arraes, Ariano falou. Ele agradeceu ao deputado Paulo Rangel (PT) – autor do projeto que reconheceu um dos mais importantes escritores da literatura brasileira como cidadão baiano – e ao povo da Bahia pela homenagem.

Mais tarde, durante entrevista, explicou que a cultura do sertão baiano também está, indiretamente, presente na sua obra: “Só se pode entender o Brasil entendendo Canudos”.
Durante o discurso, após longo abraço no amigo Fábio Paes, disse que nasceu paraibano e que, depois de ser cidadão pernambucano e carioca, recebia o título que o tornava conterrâneo de Gregório de Mattos, uma “figura extraordinária”.

Suassuna lembrou, ainda, que foi por meio da literatura do Boca do Inferno que as décimas passaram a integrar a tradição oral da cultura brasileira: “Na minha terra, os cantadores podem não saber, mas foram influenciados por Gregório de Mattos”.

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