23 abril 2008

A terra também treme no Brasil

Observatório Sismológico da UnB registrou, nos últimos dez anos, mais de cinco mil abalos no país, muitos acima de 3.0 na Escala Richter

Para o brasileiro, tremor de terra é algo pouco conhecido e não traz preocupações, mas o fenômeno acontece em menor ou maior grau em todas as regiões do país. Somente nos últimos dez anos, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília - pioneiro no pais - registrou 400 sismos com magnitude igual ou superior a 3.0 na escala Richter.

Magnitudes 3,0 na escala que leva o nome de seu criador - Richter - e quantifica o tamanho do abalo (energia liberada) são considerados fracos, mas podem causar pequenas rachaduras na construções. Os valores máximos já registradas foram de 9,0, quando a destruição é total se o terremoto ocorrer em áreas urbanas.

No Brasil, os tremores de terra só começaram a ser detectados com precisão a partir de 1968, quando foi instalada uma rede mundial de sismologia. Brasília, mais precisamente o Parque Nacional (Água Mineral), foi escolhida para sediar o arranjo simográfico da América do Sul. Nos últimos anos, a terra tremeu com maior freqüência em João Câmara (RN), Cascavel e Pacajus (CE), Porto dos Gaúchos (MT), Caruaru (PE), Pedro Leopoldo, Betim e Igaratinga (MG).

Em 2002, a população de Pedro Leopoldo (MG), por exemplo, sentiu por duas vezes os efeitos dos tremores que mexeram com a tranqüilidade da pequena cidade. O mais forte ocorreu dia 6 de maio, às 3h12m, com 3,0 graus na escala Richter. No dia 30 de abril, a terra tremeu às 13h19m, atingindo 2,7, seguindo-se novo abalo, sete minutos depois.

FORMAÇÃO COMPLEXA
Os habitantes de Pedro Leopoldo já haviam presenciado sismos de baixas magnitudes, em 1986, 1998 e 1999, com índices menores ou igual a 3,0. Essa localidade possui uma formação geológica complexa, com grande número de cavernas, grande concentração de calcário e de dutos aquáticos subterrâneos. Possui ainda uma intensa extração mineral (calcário, pedreiras), fatores que, segundo o professor Lucas Vieira, coordenador do Observatório Sismológico da UnB, podem ter contribuído para ocorrência dos tremores.

Em 2003, os sismógrafos do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) detectaram no início da noite de dia 16 março, dois abalos sísmicos na região de Areado e Alterosa, no sul de Minas Gerais. O abalo maior aconteceu às 18h29m e atingiu 3,4 pontos na escala Richter. Há informações de que foi sentido por parte da população. O segundo abalo registrado ocorreu seis minutos depois e atingiu uma magnitude 2,8 (escala Richter).

Os sismos acontecem porque a camada mais externa da Terra, a litosfera, formada pelos primeiros 100Km de profundidade, é rígida e quebrada em diversos pedaços (placas tectônicas) que não estão parados, mas se movimentando uns em relação aos outros. Nos pontos onde estas placas se tocam ou se roçam ocorrem os maiores e mais freqüentes tremores. A causa desse movimento é a existência de forças geológicas no interior da terra, cuja origem não é ainda bem conhecida e determinada. O Brasil está localizado no meio de uma placa tectônica. Nas bordas ou limites dessas placas a atividade sísmica é mais forte, mas a história tem demonstrado que ela pode ocorrer mesmo em regiões de baixa atividade (intraplaca).

ZONA DE FRAQUEZA
O tremor de maior magnitude de que se tem notícia no Brasil data de janeiro de 1955, em Porto dos Gaúchos (MT), tendo alcançado 6.5 na escala Richter. Não houve danos, pois a região não era habitada, na época. Nesse local, existe um rebaixamento da crosta terrestre, também chamada de zona de fraqueza. No mesmo ano aconteceu o segundo maior abalo, mas foi no Oceano Atlântico, a cerca de 300km do litoral do Espírito Santo, alcançando 6,3 e intensidade VIII. Depois disso, pelo menos dez outros abalos, com magnitude variando de 5.0 a 5.5, ocorreram, em diferentes partes do país.

Os danos que um tremor causa dependem de vários fatores: tamanho do sismo, magnitude, profundidade da terra em que tenha ocorrido (os mais profundos em geral são menos sentidos do que acontecem próximos à superfície), geologia do terreno e da qualidade das construções das zonas abaladas. Em geral, os estragos estão relacionados a magnitudes iguais ou superiores a 5 na escala Richter.

Em Caruaru (PE) foram registrados 62 eventos no período de um século. A cidade está sobre uma falha na placa tectônica, que passa pelo alinhamento leste-oeste. O autoridades da cidade estão restabelecendo o convênio que vigorou até 1997, com o Obrservatório Sismológico da UnB para o monitoramento sismográfico da região. O último abalo na cidade foi registrado, hoje, com magnitude ainda não divulgada.

Em Brasília, no dia 20 de novembro de 2000, a terra tremeu com uma magnitude 3,7. Os estudos posteriores ao abalo indicaram a possibilidade de desabamento de uma caverna subterrânea. O solo da região é rico nesse tipo de formação. Ainda não é possível prever-se com exatidão a ocorrência de terremotos. O máximo que os técnicos podem falar é em probabilidade de existência de tremores em algumas regiões.

Apesar de não ser alamante, o nível de sismicidade brasileira precisa ser considerado em determinados projetos de engenharia, como centrais nucleares, grandes barragens e outras obras de porte. "É necessário dar atenção especial ao padrão das construções situadas nas áreas de maior risco sísmicos", ressalta professor Lucas Vieira.

O Observatório Sismológico é aberto à visitação de escolas e ao público em geral. Basta marcar com antecedência pelos telefones: 349 4453 e 348 2145.

CONCEITOS BÁSICOS
Terremoto ou Sismo: é basicamente a liberação instantânea de energia acumulada na litosfera, seguida de uma fratura ou deslocamento de uma falha (ativa).
Hipocentro: o ponto onde começa a fratura, também sinônimo de foco.
Epicentro: o ponto na superfície acima do hipocentro.
Ondas sísmicas: vibrações elásticas geradas por um sismo que se propagam através das rochas.
Magnitude: medição da extensão relativa dos sismos. Este parâmetro está relacionado com a energia elástica liberada pelo sismo no seu foco.
Intensidade: é a medida dos efeitos causados pelas ondas sísmicas em um determinado local da superfície terrestre, expressa geralmente em uma escala com 12 níveis/ graus, a escala Mercalli.

Abalos sísmicos no Brasil (acima de magnitude 5) de 1922 a 2002
27/01/1922 - 3:50:40 - Mogi Guaçu-SP - 5,1
28/06/1939 - 8:32:22 - Tubarão-SC - 5,5
31/01/1955 - 2:03:07 - Serra Tombador-MT - 6,6
28/02/1955 - 22:46:18 - Litoral Vitória-ES - 6,3
13/12/1963 - 21:05:42 - Manaus-AM - 5,1
13/02/1964 - 8:21:46 - NW de Mato Grosso do Sul - 5,4
20/11/1980 - 00:29:42 - Pacajus-CE - 5,2
5/08/1983 - 3:21:42 - Codajás-AM - 5,5
30/11/1986 - 2:19:50 - João Câmara-RN - 5,1
10/13/1989 - 1:11:21 - João Câmara-RN - 5,0
12/02/1990 - 20:56:39 - Plataforma-RS - 5,0
10/03/1998 - 23:32:44 - Porto Gaúchos-MT - 5,2

Fonte: Observatório Sismológico da UnB

CONTATO
Professor Lucas Vieira Barros pelos telefones (61) 3349 4055 e 3307 2145.

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